Eu perdi meu bebê

Descobrimos que ele estava ali com 4 semanas.
Contamos para todo mundo. Comemoramos.
Aquele bebê estava desde bem antes daquela manhã de abril de 2013 na nossa vida, nos nossos planos e nos nossos sonhos.
Vai nascer em janeiro!! Vai ser menino ou menina?
Começa o pré natal.... Coração daqui 4 semanas...
28 de maio de 2013. Chuva. Frio. Céu cinza. Roupa cinza. Coração e alma coloridos... Vamos ouvir o coração!!
Deita na maca. Coloca aparelho. Ajeita aparelho. Médica do laboratório me olha: "Você tem certeza que está grávida de 8 semanas" "Sim, porque" "Não posso dizer... Você precisa falar com o seu médico" "O que aconteceu?" "Não tem batimentos. Parou de se desenvolver na 6º semana" Saímos das sala. A auxiliar da médica vem nos entregar o DVD para levarmos ao médico e diz: "Parabéns!".... Dor.
As pessoas começam a ligar para nós para saber do bebê: "Não fica assim, daqui a pouco você engravida"... Dor "Foi melhor assim"... Dor "Não precisa chorar tanto, não era um bebê... Era ainda um combinado genético"... Dor "Imagina se nascesse e morresse! Melhor agora que vocês não se apegaram"... Dor Aborto espontâneo. Começou durante uma reunião. Sangue. Confusão... Dor 9 ultrassons depois... 9 mm de endométrio... Melhor fazer a curetagem... Agosto... Não aguento mais.... Dor 6 de novembro de 2013! Positivo! 12 de dezembro... Coração... Choro, segredo.... Amor. 12 semanas... Todos vibram! 3 anos passam... 24 de agosto de 2016, em um encontro falamos sobre a perda perinatal e como é de extrema importância capacitar os profissionais de saúde para lidar com ela. 30 de agosto de 2016, estudando acabo lendo dois artigos que falam sobre a morte perinatal. Entro em contato com a perda do meu bebê novamente. 2 anos depois a experiência é revivida por meio de outras histórias.
Elaboração, ressignificação e escuta. É preciso olhar a perda perinatal, é preciso ouvir os pais, é preciso permitir o sofrimento, acolher, entender e respeitar o tempo e a dor de cada um. As perdas acontecem e com elas vão embora sonhos. Aquele bebê existiu, NÃO será substituído, NÃO é só material genético e NÃO, NÃO foi melhor assim pelo menos para mim.
Damiana Angrimani Bonavigo é mãe e Psicóloga.
#perda #perdaperinatal #perdagestacional #acolher #escutar #morte #luto #elaboração #tempo